Por Ivan Nóbrega.
Fechando o ciclo...
A realização do desejo de percorrer pedalando todos os nove
estados nordestinos, concretizou-se no
último dia 20 de agosto de 2012. O último percurso, de Parnaíba - PI até Paulino Neves- MA foi
o mais curto de todos os outros seis os quais abrangeram os estados da Bahia, Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piaui.
Com apenas 174Km percorridos em
um dia e meio, nem de longe foi a mais fácil ou a menos prazerosa etapa. O calor
e a alta umidade apimentavam o desafio,
enquanto que as paisagens alimentavam as nossas retinas com belas imagens.
Deslocamos de carro de Natal até
Parnaíba e após dormirmos em um hotel
maravilhoso e barato iniciamos os preparativos às 8.00. O sol já mostrava os seus efeitos.
Arrumamos
as Bikes e atravessamos a cidade de Parnaíba com algumas ciclovias e muitas
bicicletas utilizadas como transporte pela população economicamente menos
favorecida.
Como havia trocado o ciclocomputador
e tendo sido aferido pelo parceiro Tácio, imprimia um ritmo razoável e a
minha velocidade não passava dos doze
Km/h. Comecei achar que não estava
bem. Perguntei a Abel qual era a sua velocidade e ele confirmou-me ser exatamente igual a
minha. Estranhei, pois minha experiência me dizia que algo estava errado. Um
a zero para ela. Nossos computadores estavam marcando milhas.
Muito líquido e tudo saindo pelos poros com
o calor já dando boas vindas.
Após saírmos da BR 343, que liga Paranaíba a
Teresina, atravessamos a ponte sobre o rio que dá nome a cidade do Piauí e
divide os estados do Piauí e Maranhão e iniciamos a MA 345.
A pista estreita, quase sem
acostamento, aumentava a nossa preocupação quanto à segurança. No entanto,
para nossa surpresa, todos os motoristas, incluido os de veículos maiores,
passavam por nós obedecendo no mínimo,
a distância regulamentar de 1,5m. Os que cruzavam por nós buzinavam, acendiam
os faróis e acenavam em saudação. Nota
dez para os maranhenses.
E o calor, hein? Água de côco, nem pensar. No maranhão côco só de
Babaçu. Reposição eletrolítica era mais que necessário para não “bater o
motor”. Banho de cacimba? Muito bem vindo pois além de refrigerar o corpo,
permitia a interação entre os habitantes dos lugares que certamente jamais
teríamos oportunidade de conhecer se estivéssemos utilizando outro meio de
transporte.
Nesse particular, em uma dessas
paradas, conhecemos o seu Joca, um senhor de idade com um pequeno comércio,
que vendia de tudo. Desde antigos aparelhos de barbear no qual se desenroscava
o cabo e acoplava uma lâmina de Gilete, passando por leque, bolas de
naftalina, remédio para vermes e sola de couro para alpercatas. Um papo
descontraído e uma amizade eterna na memória e contraditoriamente fugidia.
O trecho apresentava-se com muitas elevações, que apesar de não serem
muito inclinadas, eram constantes. Em uma delas a subida longa parecia que
terminaria no céu...
Parada para o almoço e o primeiro contato com os nomes inusitados das cidades. Placa era o
título desse povoado, que junto com Comum, Zé Doca, Chapéu de Couro, formam
uma coleção de nomes curiosos no
estado maranhense.
Um lugar simples para comer e uma
única rede de Tucum na qual revezávamos os cinco enquanto o almoço não
chegava. Foi aí que tomei o melhor suco de cajá dos últimos tempos. Batido no
leite, repetí tres grandes copos. Alí também assistimos a passagem de um
redemoinho que espalhou poeira por todo
o ambiente.
Saímos da MA 345 e entramos na MA 402 em direção á Tutóia.
Primeiro imprevisto: Parte-se a corrente da Bike de Tácio. Mas como ele é
mecânico e dos bons, resolveu facilmente o problema.
Caía a tarde e com a estrada
estreita e o volume de tráfego considerável, decidimos por segurança, não percorrer os
últimos 15Km até Tutoia e pernoitar no próximo povoado A pequena cidade de Barro Duro.nos
recepcionou na entrada com um belo rio
nos moldes amazônicos, bem caudaloso. Havíamos percorrido 106km. Parece pouco;
mas dada as condições de calor e
subidas, estava de bom tamanho..
A Igreja com os seus quatro alto falantes direcionados a todos os pontos cardeais, produzia
um som rachado de péssima qualidade, resultando em um tsunami de decibéis. A única pousada, da cidade estava localizada aonde?
Claro, em frente a Igreja. Um pouco mais
a frente, Reggae maranhense, carro de
som divulgando seus candidatos à próxima eleição,
profanavam o clero e os nosos pobres ouvidos. Povo prá gostar de barulho. Penso que o Deus deles deve ser meio
surdo.
Só havia um quarto com ar condicionado. Fomos os cinco tentar
fugir do barulho. Mais uma vantagem de pedalar. O cansaço nos deixa mais
tolerante e conseguimos dormir após a
meia noite, quando o barulho já arrefecia. Até que um pesadelo com trilha
sonora nos acorda 5h da manhã. Era o padre novamente com o seu som rachado
venerando o Deus decibéis. Assim não
há cristão que aguente!
Café da manhã incuído na diária
de R$15,00 com melancia e tapioca como
Up grade.
A entrada para Paulino Neves, já nos
pequenos lençóis fica a 2km antes de Tutóia.
Decidimos seguir àquela cidade imaginando comer um peixe à beira mar e
iniciar os últimos 32 km até Paulino Neves quando o sol começasse a dar uma trégua.
Paramos em um posto de gasolina para
abastecer as bolsas de hidratação com gelo e fomos cercados por garotos
admirados com as bikes. O frentista curioso fazia perguntas sobre a nossa
aventura e nos presenteou com um inusitado brinde. Um kit contendo um rolo de papel higiênico e
um sabonete, sem haver nenhuma logomarca do posto. Será que estávamos
cheirando mal? Não sei... Talvez mais uma gentileza do povo maranhense.
Tutoia apresentou-se como uma cidade confusa no trânsito e uma
orla que nos deixou muito
decepcionados. Apenas duas palhoças onde funcionavam arremedos de
restaurantes. Comemos um peixe e não esperamos o sol esfriar. Reiniciamos o
pedal já por volta do meio dia. Compensou. O trecho era maravilhoso. Muitas
curvas, poucas subidas, um vento refrescante e vários rios de águas limpas,
serpenteados de palmeiras de buriti onde os curumins a se banhavam, sem o menor pudor, em traje de Adão. Mergulhamos
em um desses rios e chegamos finalmente ao nosso destino: Paulino Neves.
Alí localizam-se os pequenos lençóis, que são a
porta de entrada do Lençóis maranhenses. Para completar o passeio, só com
veículo 4X4 em função da areia a perder de vista. Alugamos uma Toyota com
motorista e fomos a Caburé,- barra do rio preguiças,- que em um belo passeio de voadeira com duração de 45 minutos com paisagens deslumbrantes, chegamos
em Barreirinhas.
Agradável cidade às margens do
rio Preguiças em que se percorre sobre um deck onde se localizam os bares e
restaurantes com uma noite super agitada repleto de gente em busca das
belezas proporcionadas pelos passeios nos Lençóis.
Dia seguinte fomos até os
grandes lençóis, por uma trilha digna dos mais desafiadores rally que por
sinal acontecia o segundo maior do mundo e o maior do Brasil; o dos Sertões.
Um belo deserto onde as lagoas são super bem
vindas ao banho em função do calor. Mergulhamos todos e lavamos as nossas
lembranças dessa bela viagem para guardar com muito brilho em um lugar muito
especial na memória.
Participaram da viagem. Abel,
Armando, Ivan, Paulo e Tácio.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário